Uma vida feliz é como descreve Albertina Rocha, quando completou 100 anos de idade, no dia 14 de outubro. Ao entrar na bela casa com traços antigos e o cheiro da lareira que se fazia sentir no ar, encontramo-la serena no sofá a ver o programa televisivo que mais gostava.
O filho, Ernesto Silva, acompanhou-nos e numa visita guiada pelos espaços contou-nos o orgulho que tinha no centenário da mãe, que, apesar de uma vida de campo, e de muito trabalho era uma senhora rodeada de amor.
“A minha vida não podia ser melhor. Uma vida bonita e feliz. Nenhum rico foi tão feliz como eu (risos). O meu marido era motorista da gondomarense e eu trabalhava no campo e cuidava dos meus filhos, mas todos os anos, nas férias, íamos ao Gerês para as termas, descansar da azáfama que era a nossa rotina”, conta-nos Albertina.
Teve oito filhos e o pós-parto de cada um deles, ao contrário do habitual na época, foi calmo e de pouco trabalho. “Quando tinha filhos, na verdade, oito vezes (risos), o meu marido contratava uma senhora para me ajudar durante um mês para que estivesse focada nos filhos e não a trabalhar. Não tínhamos muito dinheiro, mas ele fazia questão de cuidar de mim”, confessa-nos.
“Além de mim e dos meus sete irmãos, ainda tem 16 netos e 20 bisnetos. É rodeada de amor. Apesar de difícil muitas vezes... é muito gratificante vê-la com tanta saúde aos 100 anos. É saudável, não toma um único medicamento, mas tem um problema, não gosta de beber água (risos)”, afirma Ernesto Silva.
Vive na mesma casa, desde 1958, e por lá irá continuar enquanto a vida permitir. Umas remodelações, mais um aquecimento, a lareira ligada e o sorriso com que recebe todos os que a visitam. É uma mulher centenária, a desconfiança era visível, quando perguntava ao filho se “estávamos a tirar dele”, certamente pelos tempos da ditadura desconfiou da nossa intenção enquanto jornalistas, mas em momento nenhum nos recebeu mal.
As recordações e as memórias nos quadros do marido que falecera há 40 anos, a emocionavam visivelmente. Certamente de uma saudade que não terá fim e de um amor que não acabará. São 100 anos de história. Parabéns, Dona Albertina.