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Fernando Rocha: “Se falarem de anedotas, o primeiro nome que se lembram é provavelmente o meu”

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Aos 38 anos, Fernando Rocha considera-se um humorista, mais do que um ator ou apresentador. Com 12 CD’s, três DVD’s e dois livros editados, o homem que põe Portugal a rir admite ser “o rei das anedotas” e continua a percorrer o país e o estrangeiro com espetáculos ao vivo. Natural de Rio Tinto, o criador de personagens como Tone, Matumbina e Tibúrcio, vive atualmente em Baguim do Monte e confessa ao Vivacidade que trabalha para o público. Espera um dia parar por Gondomar, para dar aulas de teatro a crianças menos favorecidas.

A sua infância foi feita na Invicta? Ia muitas vezes para a Ribeira, tinha lá familiares. Até aos 6 anos era dos putos que mergulhavam para o rio, quando os camones atiravam as moedinhas, ia para a piscina de Campanhã por 25 escudos e faltava às aulas para ir às Antas ver os treinos do Porto. Basicamente a minha infância foi vivida na fronteira entre o Porto e Rio Tinto.

Considera que foi essa sua faceta mais traquina que lhe permitiu ter mais à vontade para ser ator, humorista e apresentador? Sim, acho que a minha vertente traquina deu-me as bases para ser mais humorista que ator. Uma das coisas que tenho e não quero curar é a minha parte Peter Pan. Eu não sou responsável e não quero saber quem pagou a luz ou a água, quero é abrir o frigorífico e ter comida, carregar no interruptor e ter luz, abrir a torneira e ter água. Tenho comigo uma equipa de sucesso que faz o que eu não quero fazer, a parte burocrática. Eu quero é criar e fazer um espetáculo ou uma peça de teatro.

Alguma vez imaginou vir a fazer carreira do humor, depois de ter sido eletricista de construção civil e trabalhador da CP? Nunca imaginei que um passatempo pudesse ser a minha fonte de rendimento. É a mesma coisa que eu ser pescador por hobby e passar a ser pescador profissional.

[caption id="attachment_2785" align="alignleft" width="300"]O humorista celebra 15 anos de carreira em 2014 / Foto: Ricardo Vieira Caldas O humorista celebra 15 anos de carreira em 2014 / Foto: Ricardo Vieira Caldas[/caption]

Quando se tornou vencedor do programa ‘Ri-te, Ri-te’ despertou para essa realidade? A vitória foi um despertar, mas só percebi que podia ganhar a vida a contar anedotas quando me pagaram pela primeira vez para o fazer. Eu pensei: “Este tipo está a pagar-me, ou é maluco ou eu não estou a ver a potencialidade disto” (risos). A determinada altura o bar – Tic-Tac, em Gaia – começou a encher, todas as quintas-feiras, e depois a concorrência chegou a oferecer-me o dobro do que eu estava a ganhar. Não aceitei porque era muito próximo do bar onde eu estava e sempre honrei a minha palavra.

Em 2003, começou a entrar no ‘Levanta-te e Ri’, era a última atuação da noite. Como viveu esse período? Inicialmente as pessoas viam o “Levanta-te e Ri” por minha causa. O programa precisou de mim para ter audiências e os humoristas que apareceram precisaram do ‘Levanta-te e Ri’ para serem conhecidos. Estamos a falar desta nova vaga de humoristas: Bruno Nogueira, Gato Fedorento, Nilton, Aldo Lima… Claro que se não existisse o ‘Levanta-te e Ri’, todos eles mais cedo ou mais tarde tinham que aparecer.

Como caracteriza a influência do programa? É mítico, virou uma página no panorama nacional do humor. Os portões abriram-se para uma nova geração de humoristas e demos a conhecer o standup comedy, um novo formato da comédia.

Vários humoristas que participaram no ‘Levanta-te e Ri’ dizem que o programa acabou por ser injustiçado ao nunca ter sido premiado… Foi injustiçado, mas é para o lado que durmo melhor. Globos de Ouro serão sempre atribuídos à parte mais lúdica e intelectual deste país, tudo o que for popular não recebe um Globo de Ouro, nem que tenha muita gente a gostar. Uma peça de teatro contemporânea vista por poucas pessoas provavelmente tem mais capacidade para ser premiada do que um ‘Balas e Bolinhos’, que foi um sucesso de bilheteira e o filme português mais visto de todos os tempos. Nem sequer nomeado foi.

Fazia falta, hoje em dia, um programa como o ‘Levanta-te e Ri’?

A comédia faz-nos falta. Atualmente ligamos a televisão e não temos comédia popular. Temos programas de humor muito bons, como o ‘5 para a Meia Noite’ e programas do Bruno Nogueira, mas todos percebem aquele tipo de humor? Não percebem. É só para algumas pessoas. Fazem falta programas populares como o ‘Maré Alta’, ‘Malucos do Riso’, ‘Levanta-te e Ri’… São formatos diferentes mas com um público transversal.

Com o contrato de exclusividade com a SIC começa a fazer participações nos programas do canal. Foi fácil adaptar-se? Nunca consegui deixar de ser o gajo dos palavrões e das anedotas, mas nem quero. Se falarem de anedotas, o primeiro nome que se lembram é provavelmente o meu. Isso quer dizer que se em Portugal existe um rei das anedotas, quem está neste momento sentado no trono sou eu. Não me vou levantar e dar o lugar a outro. (risos)

Alguma vez o incomodou essa caracterização? É indiferente. Podem dizer o que quiserem, o meu objetivo é fazer rir o meu público.

[caption id="attachment_2797" align="alignleft" width="300"]Fernando Rocha quer fazer rir os portugueses / Foto: Ricardo Vieira Caldas Fernando Rocha quer fazer rir os portugueses / Foto: Ricardo Vieira Caldas[/caption]

Em Portugal é difícil viver do humor? Para mim não. Tenho que ser honesto, não tenho razões de queixa. Os valores dos meus cachês vão-se moldando e ajustando à realidade do país. É uma estratégia que faz sentido e tem-me permitido trabalhar durante 15 anos. Mesmo com este deserto televisivo que passei, durante 5 anos, trabalhei todos os fins-de-semana.

Houve uma variação do cachê durante os últimos anos? Houve umas oscilações. Tem que haver um jogo de cintura para que a pessoa que me contrata fique satisfeita e volte a contratar.

Qual é para si o melhor humorista português? Para mim o melhor é um gajo chamado Miguel 7 Estacas.

No humor vale tudo? Não, para mim não vale tudo. Detesto humor negro, não gosto de contar piadas sobre doenças, cancros, pedofilias, etc… Prefiro contar piadas sobre santos e falar de religião, do que estar a brincar com doenças e problemas sociais. Outra coisa que também não gosto – e por isso nasceram as minhas personagens – é utilizar nomes de figuras públicas. Há pessoas que menosprezam e humilham figuras públicas em prol do riso de uma plateia. O Charlie Chaplin tem uma frase que diz: “A minha dor pode ser motivo de gargalhada, mas a minha gargalhada não pode causar dor a ninguém”. Eu comungo dessa ideia.

O humor é um dom ou consegue-se através de aprendizagem? Os cursos ajudam a lapidar, mas se não existir talento não adianta nada. No entanto, os workshops fazem muita falta, porque se uma pessoa percebe que tem talento e faz rir os amigos ou a família, um workshop é a solução ideal.

O curso da ESAP (Escola Superior Artística do Porto) trouxe-lhe novos conhecimentos na representação. Isso permite-lhe fazer novelas como ‘Sol de Inverno’? A faculdade ensinou-me alguns métodos mais fáceis, nomeadamente de representação e memorização dos textos, mas a essência já estava lá. A parte teórica faz sempre falta, mas a prática é que dá a tarimba do dia-a-dia. O melhor professor que tive até hoje continuam a ser os erros que cometo.

Sempre o vimos associado ao humor, podemos agora passar a vê-lo em representação de papéis dramáticos? Não, o papel na novela também é cómico (risos).

Mas enquanto tirava o curso superior teve essa necessidade? Sim, fiz o Rei Édipo. Aquilo nem era drama, era uma tragédia grega que ainda era pior (risos). Mas fazer drama para mim é complicado, é um drama (risos).

Continua a ter espetáculos no país e no estrangeiro. Tenciona manter sempre esse ritmo? Para já não penso em abrandar. Um dia que não possa fisicamente, aos 65 anos gostava de parar com as viagens malucas e dar aulas no espaço da antiga feira do Rio Tinto [no fórum anteriormente previsto para o espaço] às crianças dos bairros. Gostava de dar formação às crianças menos favorecidas.

Ou seja, gostaria de parar por Gondomar? Sim, no dia em que parar tem que ser para ficar aqui. Estão aqui as minhas raízes, eu faço parte de Gondomar.

Como quer ser recordado quando terminar a sua carreira? Quero ser recordado como bom homem, bom marido e bom pai.

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