
Reconhecido internacionalmente pela especialidade na cirurgia do pé e tornozelo, o médico ortopedista Paulo Amado nunca pensou em abandonar Rio Tinto, a sua terra natal. Nascido a 1 de setembro de 1960, o profissional começou o seu percurso académico na Escola da Boavista, em Rio Tinto, e, mais tarde, formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Atualmente, é membro da direção da Sociedade de Ortopedia, do Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos e espera, em março de 2015, apresentar a sua tese de doutoramento em Santiago de Compostela, onde se tornou mestre. Na edição número 100 do Vivacidade, entrevistamos o médico que nos acompanhou praticamente desde o início e quisemos saber mais sobre o seu percurso profissional e a sua opinião sobre os media locais.
Como surgiu o gosto pela medicina? Curiosamente, a minha primeira opção foi arquitetura, o que não tem nada a ver com medicina. Os meus pais chegaram a dizer que eu era carniceiro porque entrei nas ciências da natureza e já gostava de fazer cirurgias. Sempre pensei na ortopedia, porque é um misto da construção dos ossos e da medicina. Ser ortopedista é especial, porque esta é uma especialidade muito cirúrgica e porque o ortopedista é um pouco mecânico, porque lida com muitos parafusos [risos].
Já passou por vários hospitais. Como começou a sua carreira? Comecei no Hospital São João, depois fundei o Hospital da Feira e mais tarde dediquei-me exclusivamente à medicina privada. Já tinha o meu consultório em Rio Tinto e fui convidado para dirigir a ortopedia do Instituto CUF, onde estive mais dois anos, até ser convidado para ir para o Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa, em Gondomar. Esse foi um projeto que falhou a toda a medida. Recentemente integrei o Hospital Lusíadas, na Boavista.
Quando é que começaram a surgir convites internacionais? Eu dedico-me muito à investigação científica e sou um dos cinco membros europeus do Comité Internacional da Cirurgia do Pé e Tornozelo, o único português. Isto envolve ir a muitos congressos, o que me agrada muito.
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/ Foto: Ricardo Vieira Caldas[/caption]
Na ortopedia é conhecido pelas cirurgias dos tornozelos e dos pés... Desde o início que tive um gosto em particular pela medicina desportiva e comecei a minha carreira no Arsenal do Bessa, que era um clube satélite do Boavista FC. Depois fui para o SC Salgueiros, onde estive 12 anos, e depois estive mais 12 anos no Leixões SC. Em junho deste ano, fui impulsionado pelo vice-presidente do Vitória Sport Clube
para ser o diretor clínico da equipa médica. Em Gondomar, também fui médico das equipas SC Rio Tinto e do Clube Atlético de Rio Tinto. Devo ter sido dos poucos que fui médico dos dois clubes ao mesmo tempo. Sou favorável à união destes dois clubes e quase que a consegui instituir. Julgo que os dois clubes vão ter grandes dificuldades de sobreviver se continuarem separados.
O que falhou na fusão do Sport Clube de Rio Tinto e do Clube Atlético de Rio Tinto? Recordo-me que consegui juntar no meu antigo consultório os dois ex-presidentes dos clubes, que eram amigos fora dos relvados. O Atlético de Rio Tinto é um clube com um património histórico importante e o Sport Clube de Rio Tinto tem uma situação desportiva muito importante, mas o património histórico é menor. Na brincadeira cheguei a sugerir o nome Sport Atlético de Rio Tinto [risos]. Acho que era uma mais valia para a cidade, que merecia ter um clube na 2ª divisão. Ao dividir-se os patrocínios pelos dois clubes é muito mais difícil atingir este patamar e eu continuo a defender esta ideia.
Lesão de Cristiano Ronaldo Não me enganei muito no destino dele. É uma lesão crónica da qual ele ainda não se livrou, mas está muito melhor agora.
Recentemente foi à televisão falar da lesão que atormentou Cristiano Ronaldo no Mundial do Brasil. A lesão já está ultrapassada ou o craque português ainda pode ter problemas? É verdade, cheguei a ir comentar a lesão do Cristiano Ronaldo em vários canais televisivos, por altura do Mundial de Futebol. Curiosamente não me enganei muito no destino dele. É uma lesão crónica da qual ele ainda não se livrou, mas está muito melhor agora.
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É irreversível? É uma tendinose crónica do tendão roteleano e caso ele fosse operado obrigava-o a parar vários meses, o que é muito complicado para um atleta como o Cristiano Ronaldo. No entanto, ele está ao mais alto nível e tem marcado muitos golos.
A legionella é motivo de preocupação nacional. Os portugueses devem estar preocupados com esta bactéria? Sou membro da direção do Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos e os casos de legionella têm sido uma preocupação nossa. Contudo, acreditamos que já se descobriu a fonte da bactéria, que está relacionada com a emissão de gotículas contaminadas por legionella. Penso que o caso já está a ser controlado pelo Ministério da Saúde, que reagiu em tempo útil e controlou a fonte emissora.
Ainda vamos ter mais casos de contaminação? Até agora já temos oito mortes [na altura do fecho de edição] mas provavelmente ainda vão morrer mais pessoas que já estão contaminadas. No entanto, sabendo qual é a fonte emissora, a disseminação já pode ser controlada.
Nunca deixou de estar ligado a Rio Tinto. Tenciona manter sempre essa ligação? Sim, isso é muito importante. Eu era incapaz de sair de Rio Tinto, a não ser que fosse por uma causa extraordinária, porque tenho uma grande ligação à terra. Metade das pessoas que vêm a esta clínica vêm de fora de Gondomar e julgo que o meu nome já está associado a Rio Tinto.
Clube Atlético de Rio Tinto e Sport Clube de Rio Tinto Devo ter sido dos poucos que foi médico dos dois clubes ao mesmo tempo. Sou favorável à união destes dois clubes e quase que consegui instituir essa união. Julgo que os dois clubes vão ter grandes dificuldades de sobreviver se continuarem separados. Na brincadeira cheguei a sugerir o nome Sport Atlético de Rio Tinto [risos].
As pessoas sabem que têm o consultório em Rio Tinto e preferem vir aqui? Cheguei a ter um caso em que um colega de Lisboa disse a um doente para vir a Rio Tinto porque não sabia em que sítio é que eu estava a trabalhar no Porto, mas tinha a certeza que eu estava em Rio Tinto.
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Porque é que é tão importante para si manter esta ligação à terra que o viu nascer? Dizem que santos da terra não fazem milagres mas se calhar ajudam [risos]. Conheço muitas pessoas aqui de Rio Tinto que vêm ao meu consultório. Procuro preservar a raiz e mantenho algumas ligações a várias associações da freguesia. Recentemente também tive o prazer de ser convidado pelos órgãos autárquicos para ser o representante da região e de Rio Tinto.
Considera que a cidade evoluiu nestes últimos anos? Sim. Já estive ligado ao movimento Rio Tinto a Concelho, mas acho que neste momento isso não faria sentido porque a realidade é completamente diferente. Hoje o importante é unirmos em vez de separarmos. Contudo, Rio Tinto e Baguim do Monte têm uma identidade muito própria que é preciso manter.
No que diz respeito à imprensa local, considera que tem cumprido o seu dever? Acho que a imprensa local espelha o desenvolvimento da cidade. O Vivacidade está presente em todos os cafés e quiosques de Gondomar e tem um papel muito importante na divulgação de tudo o que se passa no concelho. Já cheguei a ler jornais locais de outras terras que dão notícias de âmbito nacional e creio que não é essa a função dos jornais locais. Também julgo que os jornais locais devem procurar diferenciar-se, porque neste momento há jornais a mais em Gondomar.
Como colaborador do Vivacidade, tem leitores que não perdem uma crónica sua? Por acaso tenho, quer no aspeto positivo, quer no aspeto negativo. Por vezes, nas minhas crónicas fujo à saúde restrita e por vezes entro em aspetos políticos, o que suscita algumas reações. Mas tenho muitos doentes que esperam pelos meus artigos e vão acompanhando as minhas crónicas.
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Que balanço faz do percurso do Vivacidade nas primeiras 100 edições? Acompanhei a evolução do jornal e acho que nunca perderam a identidade inicial. Muitos dos colaboradores, como eu, mantêm-se desde o início. Penso que o Vivacidade foca-se no interesse da população e isso é essencial. Eu que tenho a mania que sei tudo o que se passa em Gondomar, por vezes sou surpreendido ao ler o Vivacidade.
Como é que imagina este jornal nos próximos anos? Espero que não saiam do contexto inicial e que tenham muitas mais edições. O Vivacidade está presente nos grandes eventos do concelho e espero que tenham uma presença ainda maior junto da população.