Após doze anos a presidir a Junta da Freguesia da Lomba, a cerca de dois meses de terminar o seu último mantado, estivemos à conversa com o Presidente da Junta, Rui Vicente, para um balanço dos últimos mandatos.
A poucos meses de terminar o seu último mandato na Junta de Freguesia da Lomba, com que sentimento deixa a Freguesia?
Com sentido de dever cumprido. Conseguimos cumprir os praticamente tudo o que era essencial sabendo que deixamos algumas coisas por fazer, sobretudo devido a circunstâncias financeiras e políticas do nosso concelho, umas foram possíveis fazer e outras não. Mas saio de consciência tranquila. Dediquei-me de corpo e alma aos lombenses.
O que lamenta não ter feito?
O que ficou por fazer, que estava inserido no nosso programa eleitoral, foi um slide e um passadiço. Na minha ótica a sua concretização ia dar outro prestígio a Gondomar. A Lomba iria ficar conhecida a nível nacional por este projeto turístico. Penso que nos atrasamos no tempo, na parte estrutural da Freguesia, que está a perder habitantes. O projeto industrial e habitacional, que estão a decorrer as hastas públicas desses dois projetos, deveria já ter acontecido antes. Para que a dinâmica fosse maior e a freguesia crescesse, ainda mais. A sua concretização foi tardia.
Quem é o culpado deste atraso?
São as circunstâncias. Entramos para uma Câmara muito endividada que limitava o desenvolvimento do Município e consequentemente das freguesias. Ultrapassada essa limitação financeira, com muito esforço do nosso Executivo Camarário, surgiu o Covid que interrompeu tudo. Os projetos foram-se atrasando. Todas estas circunstâncias atrás referidas foram a origem deste atraso. Neste momento temos a decorrer um loteamento industrial e habitacional.
A Lomba, em particular, tem características únicas, e apostar no turismo seria, sem sombra de dúvida, a melhor aposta do concelho. A beleza paisagística e a forma como a Lomba está posicionada no território, juntamente com o Rio Douro, é obrigatório aproveitar essas características únicas desta Freguesia para catapultar todo o potencial turístico. Além disto, precisamos de fixar indústria e pessoas. Neste momento, já deveríamos estar a falar doutros projetos além destes, mas vários fatores nomeadamente os financeiros impossibilitaram a sua execução.
Sente que o Município se possa ter esquecido da Lomba?
Não. Sem sombra de dúvida que não. A Lomba não é assim tão distante como parece. Estamos muito inseridos nos projetos do concelho. A Câmara está muito presente na Lomba, não houve nenhum esquecimento, foi feito um grande investimento. Quando chegamos as ruas estavam bastante deterioradas, fizemos uma requalificação de quase 80% e, ainda, fizemos passeios em muitas delas. Houve um investimento grande a nível de infraestruturas na nossa freguesia. O prédio social da Freguesia, também, foi requalificado. A Junta de Freguesia foi, igualmente, alvo dessa requalificação. Tínhamos um edifício velho e agora temos uma junta moderna e devidamente equipada. Temos, também, um o posto médico com muito melhores condições. O Município não se esqueceu de nós, foram feitos inúmeros investimentos fundamentais, mas faltaram outros que achamos que iriam fazer a diferença na nossa Freguesia. E é como a “Pirâmide de Maslow”: primeiro temos de satisfazer as necessidades básicas, para elevar os patamares. Neste momento a Lomba tem uma resposta social diferente, e agora quem vier a seguir, vai ter um suporte muito melhor para alavancar estes projetos. O resto está feito. Estamos a deixar coisas novas: uma escola nova, que terá primária e jardim de infância, resultado de abdicar do slide e do passadiço, apesar de trazer muitos turistas à Freguesia, as crianças estão em primeiro lugar. Primeiro pensamos nas pessoas que vivem cá e depois o exterior.
Os passadiços e o Slide já têm terrenos na posse da Câmara, agora é investir.
Como fica a Junta financeiramente?
A nossa Freguesia em 2013 estava com uma dívida de cerca de 60 mil euros, para uma junta é muito. O Município na altura ajudou-nos a pagar salários, não tínhamos recursos financeiros. Ao longo dos anos fizemos uma gestão rigorosa e, hoje, temos uma junta financeiramente saudável. Não temos dividas nem vamos deixar. Está tudo pago. Não vai ficar com muito dinheiro porque estamos a reparar ruas, a construir um bar na praia da Lomba, uns passadiços de acesso à praia da Lomba para pessoas com deficiência, e estamos a investir, sempre em prol da população da Lomba.
Falou ao longo da entrevista, do turismo na freguesia da Lomba, acha que é uma forma de a potenciar?
A Freguesia tem de pensar em conjunto, temos de investir na indústria, habitação e turismo e se crescerem todos em simultâneo conseguimos criar uma sustentabilidade fantástica. Se tivermos o slide e o passadiço e não tivermos restaurantes, alojamento local, que já está a surgir, funcionários de apoio aos visitantes, o projeto também não se desenvolve. Tem de ser tudo pensado no todo, para termos uma estrutura cimentada.
Gualter Ferreira é a escolha do PS, reconhece-lhe capacidade para dar continuidade aos projetos que ainda não foram concretizados?
O Gualter não caiu aqui de paraquedas. Tem vindo a ser preparado, nos últimos quatro anos, não está na estrutura do Executivo, mas foi uma pessoa que foi sendo preparada. Tem conhecimento dos projetos, dos dossiers da junta, do funcionamento da mesma. É uma pessoa que conhece bem a política da nossa freguesia e do nosso concelho. O Gualter é da Lomba, reside aqui, é jovem, e todos deveríamos ter orgulho porque vai abdicar da sua vida profissional para estar na Freguesia. Acredito no Gualter, tenho a certeza que será um bom Presidente de Junta, e eu estarei ao lado dele como Presidente da Assembleia de Freguesia.
Onde vamos poder ver o Rui Vicente?
Como lhe disse anteriormente, sou candidato à Assembleia da Freguesia e estou disponível para aquilo que o Luís Filipe Araújo achar melhor. Não vou virar as costas nem abandonar a Lomba. Se o Partido Socialista vencer as eleições eu serei presidente da Assembleia. E vou continuar a trabalhar com a mesma garra, motivação e disponibilidade que tive até hoje para ajudar as pessoas.
A sua missão será só a Lomba?
Não poderá ser porque tenho de ser remunerado (risos). Não sei se o meu futuro passará pela Câmara, ainda não está decidido. Vou continuar na Lomba que é o que importa, estarei disponível para as pessoas da Freguesia, para partilhar o conhecimento que adquiri até hoje, a favor das pessoas. Queria salientar, que o Alto Concelho deveria ter uma representação na Câmara, que não teve até agora, a nível de vereação.
Acha que vai ser convidado para integrar a equipa do Município?
Acredito que sim, acho que a Câmara tem de aproveitar recursos que possam ser úteis para o concelho.
Há algum agradecimento que gostaria de fazer?
Quero dizer obrigado aos meus Executivos, a toda a gente que esteve comigo, sendo da oposição ou não. Todos contribuíram para o desenvolvimento da Freguesia. À comunidade por terem acreditado em nós durante três mandatos com maiorias absolutas e agradecer pela oportunidade que me deram de termos esta experiência. Agradecer a todos pela oportunidade que me deram, sobretudo de os conhecer. Como é obvio, em 2013 não os conhecia como hoje, mas a oportunidade de me darem a conhecer, criar uma amizade, um laço com essas pessoas fica para toda a vida. Levo amigos para a vida e pretendo que se mantenham.
E, claro, à minha esposa, que abdicou de muito tempo para estar com as pessoas, no projeto e, no fundo, abdicou de mim. Agradecer aos meus pais que sempre me apoiaram e me tornaram no que sou hoje. Sem eles nada disto seria possível.